Psicologia Afirmativa para LGBTI+
O que é?
A psicologia afirmativa para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, não-bináries e intersexuais (LGBTI+) é uma modalidade de prática psicológica que visa acolher e escutar pessoas não-heterossexuais e/ou não-cisgêneras. Não se configura como uma abordagem ou uma corrente teórica específica da psicologia, mas, sobretudo, como uma ética (não-heteronormativa e não-cisnormativa) que orienta a escuta e o processo terapêutico e analítico.
A psicologia afirmativa para LGBTI+ é uma prática reconhecida e recomendada por várias instituições representativas da psicologia, como a Associação Americana de Psicologia (APA), a Sociedade Britânica de Psicologia (BPS), entre outras.
Em meu trabalho, articulo a perspectiva clínica e teórica da Esquizoanálise ao campo dos estudos de gênero e sexualidade, das teorias feministas e transfeministas e dos estudos queer. A partir dessas “lentes”, tenho atuado há mais de 15 anos nas áreas da psicologia clínica e da psicologia social junto à comunidade LGBTI+. Além da experiência profissional como psicólogo, também dediquei minha carreira acadêmica (graduação, mestrado e doutorado) ao campo dos estudos de gênero e sexualidade, desenvolvendo pesquisas científicas, oferecendo assessorias e ministrando cursos, oficinas e palestras. Para ler mais sobre minha trajetória e formação, clique aqui.
Público-alvo:
A psicologia afirmativa se dirige, especialmente, a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais (homens e mulheres trans), pessoas não-bináries e intersexuais.
Os atendimentos também podem ser oferecidos aos/às familiares de pessoas LGBTI+ que estejam buscando por orientação para saber lidar melhor com as experiências e vivências de membros LGBTI+ de suas famílias.
Tipos de atendimentos:
No contexto da psicologia afirmativa para LGBTI+, ofereço os seguintes atendimentos clínicos:
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Orientação psicológica para pessoas LGBTI+
Intervenção mais breve, que visa acolher e orientar pessoas que estejam precisando conversar e/ou tirar dúvidas sobre questões referentes à orientação sexual, identidade de gênero, gênero, corpo e sexualidades.
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Orientação psicológica para familiares de pessoas LGBTI+
Intervenção mais breve, que visa acolher e orientar familiares de pessoas LGBTI+ que estejam precisando conversar ou tirar dúvidas sobre orientação sexual, identidade de gênero, gênero, corpo e sexualidades.
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Psicoterapia para pessoas LGBTI+
Intervenção mais longa, que visa aprofundar o processo terapêutico e analítico junto às pessoas LGBTI+. Nesse contexto, trabalham-se aspectos que podem ou não ter relação com as questões de gênero e sexualidade. Sabemos que pessoas LGBTI+ não se resumem às suas orientações sexuais e às suas identidades de gênero. No entanto, no âmbito da psicoterapia, ressalta-se a importância da garantia de ambientes seguros, sensíveis e acolhedores para pessoas LGBTI+, de modo que todos/as/es possam usufruir desses espaços de cuidado.
Quando procurar?
Fazer terapia é um movimento que deve partir do desejo da própria pessoa. Nesse sentido, não há um contexto específico ou único para que alguém decida iniciar um processo psicoterapêutico.
De modo geral, um dos principais aspectos da psicoterapia afirmativa para LGBTI+ é o fato de que o/a psicólogo/a tem experiência e familiaridade com as questões de gênero e sexualidades. Com isso, favorece-se a construção de um espaço seguro de acolhimento e de uma escuta sensível que reconheça as especificidades das vivências e experiências de pessoas LGBTI+. Assim, mesmo que a motivação para iniciar a terapia não esteja diretamente ligada às questões de gênero e sexualidade, uma pessoa LGBTI+ poderá se beneficiar do encontro com um/a psicoterapeuta afirmativo/a.
De modo mais específico, alguns motivos pelos quais pessoas LGBTI+ geralmente procuram atendimento psicológico são:
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Pessoas que estejam questionando sua identidade de gênero e desejam (ou não) iniciar um processo de transição de gênero;
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Saúde transespecífica: relação com o corpo; processos de modificação corporal (hormonioterapia, cirurgias etc.); expressões de gênero; vivências transafetivas; redes de apoio; etc.
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Situações conflituosas com família que tenha dificuldades em aceitar a orientação sexual e/ou identidade de gênero da pessoa;
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Necessidade de refletir sobre as especificidades das vivências de gênero e sexualidade ao longo do curso de vida (juventude, adultez, velhice);
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Sentimentos de não-pertencimento, de inadequação, de exclusão e de solidão em diversos contextos;
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Pessoas LGBTI+ que tenham passado por situações de violência, discriminação e preconceito em diversos contextos;
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Vivências em relação ao machismo, à transfobia, à homofobia, à lesbofobia, à bifobia, ao monossexismo, ao heterossexismo etc.
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Dificuldades em aceitar a própria orientação sexual e/ou identidade de gênero;
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Questionamento de expressões “tóxicas” de masculinidades (para homens cisgêneros gays e bissexuais; ou para homens trans gays, bissexuais e heterossexuais)
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Desejo de conversar sobre vivências amorosas, afetivas e sexuais diversas (poliamor, relações abertas, não-monogamia, monogamia, conjugalidades, sexo casual etc.)
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O (con)viver com o hiv e questões relativas à saúde sexual (uso de tecnologias de prevenção, como PrEP, PEP, Tratamento como Prevenção; relacionamentos sorodiscordantes; revelação da sorologia; diagnóstico; tratamento; discriminação; estigma; etc.)
É evidente que os motivos não se esgotam nessa lista e que existem muitas outras questões possíveis que façam com que uma pessoa LGBTI+ procure por um/a psicólogo/a. O importante é que, ao iniciar um processo terapêutico, a pessoa se sinta acolhida e segura para compartilhar suas vivências.
Por que a psicologia afirmativa para LGBTI+ é importante?
Historicamente, a ciência psicológica reproduziu muitas violências contras pessoas LGBTI+. A psicologia foi uma das disciplinas responsáveis, ao longo dos séculos XIX e XX, pela manutenção e reprodução de discursos e práticas que desumanizam, patologizam (ou seja, transformam em “doenças” e/ou “transtornos”) e estigmatizam pessoas que não se enquadram nas expectativas normativas de gênero e sexualidade.
Muitos cursos de graduação em psicologia não contemplam em seus currículos questões relativas à diversidade sexual e de gênero, o que faz com que muitos/as profissionais da área não saibam lidar com as experiências e vivências de pessoas LGBTI+, ou acabem pautando seus trabalhos e suas escutas em perspectivas heteronormativas e cisnormativas.
Em decorrência do histórico normalizador, prescritivo e cisheteronormativo da ciência psicológica e da precariedade da formação de muitos/as profissionais de Psicologia, é frequente que pessoas LGBTI+ acabem tendo experiências negativas ao se consultarem com psicólogos/as. Quando isso acontece, o que deveria ser um espaço de cuidado acaba se configurando como mais um contexto de revitimização e de perpetuação de violências (para conhecer mais sobre essa questão, clique aqui para conferir o livro "Tentativas de Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs", organizado pelo Conselho Federal de Psicologia)
Considerando a importância de uma psicologia que se posicione categoricamente contra toda forma de discriminação, patologização e desumanização de pessoas LGBTI+, torna-se fundamental a construção e a afirmação de espaços seguros para essas pessoas.
Qual a posição do Conselho Federal de Psicologia?
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem uma posição muito explícita no que diz respeito a atuação de profissionais de psicologia junto a população LGBTI+. Atualmente, temos três resoluções importantes que regulamentam a atuação do/a psicólogo/a em relação à orientação sexual e à identidade de gênero: a Resolução CFP 01/1999, a Resolução CFP 01/2018 e a Resolução CFP 08/2022. Esses três documentos são enfáticos em relação a alguns aspectos:
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A psicologia não considera as homossexualidades, as bissexualidades, as sexualidades não-monossexuais, as transexualidades, as travestilidades e as não-binariedades de gênero como patologias, transtornos e/ou doenças;
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Profissionais de psicologia não podem propor tratamentos que visem a supostas “curas” e/ou “mudanças” das orientações sexuais e/ou das identidades de gênero (não sendo doenças, não há o que se curar!)
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Profissionais de psicologia não podem atuar ou se manifestar publicamente, na condição de psicólogos/as, de modo a reforçar preconceitos, estigmas e discriminações contra pessoas LGBTI+.
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Profissionais de psicologia, ao atuar junto a pessoas LGBTI+, devem construir práticas e estratégias afirmativas de enfrentamento aos preconceitos, aos estigmas e às discriminações.
Como agendar uma consulta?
Para agendar uma primeira consulta, basta me enviar um e-mail, me ligar ou mandar uma mensagem pelo WhatsApp!
Contatos:
Daniel Kerry - Psicólogo
E-mail: dakerry@gmail.com
Celular/WhatsApp: 48 9 9612-2463
Realizo atendimentos on-line e presenciais (clique aqui para ver o endereço do consultório).
Miniglossário:
Orientação sexual: diz respeito aos modos pelos quais nos orientamos e nos atraímos afetiva e sexualmente por outras pessoas (exemplos de orientação sexual: homossexual, heterossexual, bissexual, assexual, pansexual etc.).
Identidade de gênero: diz respeito aos modos pelos quais nos identificamos em termos de gênero, no amplo espectro das masculinidades, feminilidades, não-binariedades etc. É importante lembrar que “gênero” não é uma categoria fixa e “pronta na natureza”, mas uma construção social e histórica. Nesse sentido, os modos de identificação de gênero são diversos, múltiplos e se relacionam com os códigos, signos e normas culturais.
Heteronormatividade / heteronormativo: ideologia que pressupõe que a única orientação sexual “normal”, “aceita”, “desejável” e “sadia” é a heterossexualidade.
Cisnormatividade / cisnormativo: ideologia que pressupõe que a única identidade de gênero “normal”, “aceita”, “desejável” e “sadia” é a cisgênera.
Cisgênero / cisgeneridade: uma pessoa cisgênero (ou que vive a cisgeneridade) é uma pessoa que se identifica com o gênero designado ao nascimento (exemplo: uma pessoa que nasceu com pênis, foi designada ao nascimento como menino e ao longo da sua vida se identifica como menino/homem).
Patologização: conjuntos de práticas e discursos que transformam dimensões da existência humana em aspectos patológicos (doenças, desvios, transtornos etc.). Os processos de patologização das sexualidades e do gênero foram responsáveis, historicamente, pelo grave erro de se considerar pessoas LGBTI como doentes mentais e/ou como “portadoras de desvios e doenças”.
Monossexismo: crença ou ideologia que considera que a atração por uma único gênero (homossexual ou heterossexual) seria algo moralmente superior. O monossexismo é uma forma de violência que incide, sobretudo, sobre pessoas bissexuais e pansexuais.
Queer: expressão em inglês que significa algo como “estranho”, “esquisito”, “diferente”. Também pode significar um termo pejorativo que desumaniza pessoas que não se adequam às identidades de gênero e às orientações sexuais normativas (em português, seria algo como “viado”, “bicha” etc.). A partir da década de 1990, o termo passou a ser ressignificado por pessoas LGBTI, de modo a adquirir um sentido positivo de afirmação política e de subversão das normas de gênero e sexuais. Os estudos queer são um conjunto de complexas teorias, ideias e conceitos que se propõem a analisar as relações de poder que atravessam as relações de gênero e de sexualidade. As proposições queer se afirmam como “pós-identitárias”. Nesse sentido, queer não seria uma identidade de gênero ou uma orientação sexual, mas justamente um questionamento radical acerca de concepções fixas das identidades.
Obs.: Para conhecer mais termos, conceitos e definições, conferir o “Guia técnico sobre pessoas transexuais, travestis e demais transgêneros para formadores de opinião”, da pesquisadora e professora Dra. Jaqueline Gomes de Jesus